Elas possuem muitas coisas em comum. Belas, talentosas, começaram suas carreiras como atrizes na Globo e já se relacionaram com o mesmo ator: Cauã Reymond. Alinne Moraes e Grazi Massafera já se cruzaram nos corredores da fama, nas listas de melhores do ano e, agora, por pouco, não se cruzariam também na mesma novela.
Por obra do destino (e do texto afiado do brilhante Aguinaldo Silva), as duas poderiam dividir cenas em ‘Três Graças’, próxima novela das nove. Mas, Alinne disse “não”. O papel de Zenilda, uma mulher à sombra do marido, traída pela melhor amiga e que vive uma virada intensa no meio da história, agora será de Andreia Horta, segundo o Portal Leo Dias. A tal melhor amiga, Arminda, é a grande vilã da trama, papel que ficou com Grazi Massafera.
A recusa de Alinne rendeu diversos comentários nas redes sociais. Uns lamentaram: “Queria tanto ver ela de volta no horário nobre!” Outros especularam: “Claro que recusou, era coadjuvante.” E foi aí que uma frase me fisgou: “Só volte se for para ser protagonista.”
Será?
Acredito que a negativa envolva uma série de fatores que vão muito além da busca por destaque dentro da trama. Até porque o papel ficou com outra profissional competentíssima. Mas vamos supor, apenas supor, que esse tenha sido o único motivo da recusa. Alinne estaria certa ou errada? A resposta, como quase tudo na vida adulta, é: depende.
Ser protagonista não é apenas uma posição na ficha técnica. Às vezes, é uma decisão interna, uma necessidade de reencontro com a própria relevância. Em outras, é ego, vaidade, medo de se desvalorizar. É humano.
Recusar um papel que não conversa com seu momento de vida pode ser um ato de coragem. Mas há também a angústia da escolha: e se eu estiver recusando algo que me faria crescer? E se eu aceitar de novo o papel que “sobrou”, não vou reforçar o lugar onde querem me deixar?
A autora Elizabeth Gilbert, de ‘Comer, Rezar, Amar’, disse uma vez que “toda escolha tem um preço, mesmo quando ela é certa”. E é esse preço que muitos não veem. Especialmente quando se trata de mulheres. Se aceitam um papel menor: “Por que não lutou mais?”. Se recusam: “Tá se achando demais?”. Com atores que fazem o mesmo, percebo uma reação diferente. Parece que algumas pessoas ainda pensam que mulheres são treinadas para agradar, não para escolher. E, quando escolhem, são julgadas.
E tem mais: a idade. Ela chega para todos, mas pesa mais para elas. De acordo com um estudo da Universidade Estadual de San Diego, realizado no ano passado, apenas 28% dos papéis em filmes e novelas ao redor do mundo são destinados a mulheres com mais de 40 anos. Alinne está com 42. Isso não quer dizer que elas sejam menos interessantes, muito pelo contrário. Quer dizer que, ainda hoje, muitos roteiros seguem olhando a mulher pelo prisma da juventude e da “bela coadjuvante”, mesmo quando o talento diz outra coisa.
Talvez seja por isso que o “não” de Alinne Moraes ecoe tanto. Porque ele nos provoca a pensar sobre nossas próprias recusas. Quantas vezes já aceitamos estar onde não queríamos só para não decepcionar os outros? Quantas vezes recusamos oportunidades por medo de não sermos grandes o bastante para elas?
A comparação, esse vício coletivo dos tempos modernos, sempre espreita. Especialmente para quem vive de imagem. Mas, como diz Brené Brown, pesquisadora do comportamento humano: “A comparação mata a criatividade, a autenticidade e a coragem.” E é justamente coragem o que se exige para viver sob os holofotes. E mais ainda para sair deles por ES-CO-LHA.
A verdade é que o dilema de Alinne Moraes, seja ele qual for, não é um dilema exclusivo dos famosos. É o dilema de quase toda mulher (e, claro, de muitos homens também): o de saber quando é hora de recuar, de avançar, de dizer sim com entusiasmo ou não com sabedoria. O dilema de quando ceder e quando se preservar. De quando aceitar o papel secundário e quando lutar pela história principal.
A boa notícia? Não existe escolha perfeita. Mas existe escolha consciente. E, quando ela é feita com verdade (ufa!), é uma baita vitória.
Grazi segue brilhando. Andreia, com certeza, vai entregar uma Zenilda memorável. E Alinne? Bem, Alinne permanece sendo protagonista da própria história, da própria escolha. E isso, no fim, é o maior papel que qualquer um de nós precisa saber interpretar.