Dificuldades eventuais de memória são comuns no envelhecimento. No entanto, quando esquecimentos se tornam frequentes, progressivos e interferem nas atividades diárias, podem indicar o início de um processo neurodegenerativo.
Identificar precocemente os sinais do Alzheimer permite iniciar o acompanhamento clínico de forma oportuna e preservar a qualidade de vida do paciente.
A doença de Alzheimer caracteriza-se, inicialmente, por alterações sutis na memória episódica, especialmente a capacidade de reter novas informações. Os sinais iniciais podem incluir:
esquecimento recorrente de eventos recentes;
repetição de perguntas ou histórias em curtos intervalos;
dificuldade em acompanhar conversas ou instruções sequenciais;
esquecimento recorrente de objetos ou compromissos.
Esses déficits tendem a ser mais evidentes em tarefas que exigem memória de curto prazo e atenção, afetando a autonomia do indivíduo de maneira progressiva.
Além do comprometimento cognitivo, o Alzheimer pode apresentar sintomas comportamentais e emocionais. Entre os mais frequentes:
apatia ou perda de iniciativa;
alterações de humor, como irritabilidade ou depressão;
comportamento desconfiado ou paranoide;
dificuldade em lidar com mudanças na rotina;
redução da capacidade de julgamento ou tomada de decisões.
Estes sinais são, muitas vezes, percebidos primeiro pelos familiares e cuidadores próximos.
O diagnóstico precoce do Alzheimer é clínico e deve ser realizado por um especialista, com base em:
entrevista detalhada com o paciente e familiares;
testes neuropsicológicos padronizados;
avaliação funcional das atividades de vida diária;
exames laboratoriais para exclusão de outras causas (como distúrbios tireoidianos ou carência de vitaminas);
neuroimagem (ressonância magnética ou tomografia), quando indicado.
A detecção precoce também permite diferenciar o Alzheimer de outras causas de demência, como demência vascular e demência por corpos de Lewy.
Embora a doença de Alzheimer não tenha cura, o diagnóstico em estágios iniciais oferece múltiplos benefícios:
introdução precoce de terapias medicamentosas e não medicamentosas;
planejamento familiar e suporte psicossocial estruturado;
redução de riscos de eventos adversos relacionados à perda de autonomia;
maior tempo de preservação da função cognitiva com intervenções multidisciplinares;
participação em pesquisas clínicas.
Ainda que sua causa seja desconhecida, alguns fatores de risco podem estar atrelados ao desenvolvimento da doença, como: idade, histórico familiar, fatores genéticos, doença cardiovascular, obesidade, diabetes e tabagismo.
A identificação dos sinais precoces do Alzheimer é uma etapa fundamental no cuidado neurológico do idoso. Ao menor indício de alteração de memória, linguagem ou comportamento, recomenda-se procurar avaliação especializada. O acompanhamento contínuo, aliado a estratégias terapêuticas personalizadas, pode fazer grande diferença na trajetória da doença.
*Artigo escrito pelo neurologista Wyllians Vendramini Borelli (CRM 42970 | RQE 42127) do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre (RS)