Um relatório divulgado nesta sexta-feira (11) pelo escritório de direitos humanos da ONU revelou que ao menos 798 pessoas morreram nas últimas semanas na Faixa de Gaza em centros de ajuda humanitária. A maioria desses locais eram administrados pela Fundação Humanitária de Gaza, apoiada por Israel.
Os casos foram mapeados do fim de maio até julho. Mais de 600 dos mortos estavam próximos de centros da Fundação humanitária, enquanto outros 183 estavam em rotas de comboios de ajuda.
A fundação, também apoiada pelos Estados Unidos, usa empresas privadas e uma logística feita pelo governo americano para levar suprimentos. Segundo o governo israelense, isso seria para evitar que o Hamas saqueasse a ajuda, destinada a civis, algo que o grupo nega.
Os dados, diz a ONU, foram feitos com base em diversas fontes, como hospitais de Gaza, famílias, autoridades palestinas, ONGs, além de cemitérios.
'Levantamos preocupações sobre crimes atrozes que foram cometidos e sobre o risco de novos crimes atrozes serem cometidos onde as pessoas fazem fila para obter suprimentos essenciais, como alimentos', diz a porta-voz do escritório, Ravina Shamdasani.
Grupos de ajuda humanitária dizem que as restrições militares israelenses e a violência recorrente dificultaram a entrega de assistência em Gaza, mesmo depois que Israel aliviou seu bloqueio total de 11 semanas em maio.
A Associated Press ouviu especialistas que destacam que o enclave palestino corre risco de fome. A entrada de ajuda de outros grupos, entre eles a ONU, foi liberada recentemente.
Palestinos deixam a Faixa de Gaza em meio a novos ataques de Israel — Foto: Bashar TALEB / AFP
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, afirmou, ao lado do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que os dois países buscam locais para receber os palestinos deslocados da Faixa de Gaza. Logo após a fala, o ministro da Defesa israelense, Israel Katz, apresentou de forma mais detalhada os planos.
Em uma entrevista coletiva, ele explicou que a ideia é juntar todos os palestinos de Gaza em acampamentos de Rafah, cidade mais ao sul do enclave palestino. Ele chamou o local de 'cidade humanitária' e ordenou que os militares de Israel se preparassem para estabelecer um acampamento no local.
Os palestinos passariam por uma 'triagem de segurança' antes de entrar e, uma vez lá dentro, não teriam permissão para sair. As forças israelenses controlariam o perímetro do local e inicialmente 'moveriam' 600 mil palestinos para o local, sendo a maioria atualmente deslocada na área de al-Mawasi, em Gaza.
De acordo com a visão de Katz, toda a população civil de Gaza — mais de 2 milhões de pessoas — se reuniria zona, enquanto as Forças de Defesa de Israel a protegem à distância e organismos internacionais trabalham para administrar a área. Quatro outros postos de distribuição de ajuda seriam estabelecidos na região, disse ele.
O diretor-geral do Ministério da Defesa, Amir Baram, já começou a avançar no planejamento para a zona, que, segundo o ministro, não será administrada pela Defesa do país, mas sim por organismos internacionais.
Katz afirmou, então, que a população de Gaza seria alojada lá até a implementação de um 'plano de emigração' para esses palestinos, o que ele afirma que aconteceria em breve.
As obras na 'cidade humanitária', no cerne dos planos de Katz, poderiam começar durante um cessar-fogo, disse o ministro da Defesa. Netanyahu está liderando esforços para encontrar países dispostos a 'acolher' palestinos, acrescentou.
Especialistas dizem que o plano explicado pelo ministro de Israel viola o direito internacional. Michael Sfard, um dos principais advogados de direitos humanos de Israel, disse que é a 'elaboração para um crime contra a humanidade'.
'Trata-se de transferir a população para o extremo sul da Faixa de Gaza , em preparação para a deportação para fora da faixa. Embora o governo ainda chame a deportação de voluntária, as pessoas em Gaza estão sob tantas medidas coercitivas que nenhuma saída da faixa pode ser vista em termos legais como consensual', disse, de acordo com o The Guardian.