O Fogo do céu no monte Carmelo
O sol nascia forte sobre as encostas do monte Carmelo, iluminando um cenário tenso e silencioso. A multidão de Israel se reunia aos poucos, inquieta e dividida, como quem anda com o coração partido entre dois amores. De um lado, os 450 profetas de Baal, vestidos com roupas vistosas, entoavam cânticos ao vento. Do outro, solitário, o velho profeta Elias, de olhar firme e semblante resoluto.
A terra estava seca. O céu, fechado há anos. E o povo... indeciso. Elias se pôs diante deles como uma rocha no meio do deserto e bradou com voz cortante:
— Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, então segui a ele!
O silêncio foi a única resposta.
Elias então propôs um desafio. Dois novilhos, dois altares, duas invocações. Mas nenhum fogo humano. "O Deus que responder com fogo, esse é Deus!", declarou Elias. O povo, ansioso por um sinal, murmurou em aprovação: "É boa essa palavra!"
Os profetas de Baal se apressaram. Escolheram o novilho mais forte, ergueram seu altar e começaram a invocar seu deus. Desde cedo até o meio-dia, clamaram, dançaram, giraram ao redor do altar, gritaram até ficarem roucos: “Ah, Baal, responde-nos!”
Mas o céu permaneceu mudo.
Elias os observava com ironia nos olhos e zombaria nos lábios:
— Gritem mais alto! Talvez ele esteja meditando… ou ocupado... ou viajando... quem sabe dormindo e precise ser despertado!
Feridos pela humilhação e pela sede de resposta, os profetas se cortaram com facas, derramando sangue sobre o altar. O dia avançava, mas Baal permanecia ausente. Nenhuma voz. Nenhuma resposta. Nenhum sinal.
Então Elias se levantou. Chamou o povo:
— Aproximem-se de mim.
Com mãos calejadas, restaurou o antigo altar do Senhor com doze pedras — uma para cada tribo de Israel. Armou a lenha, preparou o novilho e fez algo impensável: ordenou que trouxessem água — bem preciosa naqueles dias — e derramassem sobre o sacrifício. Não uma, nem duas, mas três vezes. A água escorria, ensopava a lenha e enchia o rego ao redor do altar.
Quando chegou a hora da oferta da tarde, Elias ergueu os olhos ao céu e orou com humildade e fervor:
— Ó Senhor, Deus de Abraão, Isaque e Israel, mostra hoje que Tu és Deus em Israel, que sou teu servo, e que fiz tudo isso por tua ordem. Responde-me, Senhor, responde-me, para que este povo saiba que Tu, Senhor, és Deus, e que tu fizeste voltar o coração deles para Ti.
E então... o impossível aconteceu.
Do céu desceu fogo — não uma chama comum, mas um raio divino que consumiu o holocausto, a lenha, as pedras, a terra e até a água no rego. Em um instante, tudo foi tragado pela presença de Deus.
O povo, tomado de assombro e temor, caiu com o rosto em terra e clamou como uma só voz:
— O Senhor é Deus! só o Senhor é Deus!
Elias, ainda envolto na glória daquele momento, não hesitou. Ordenou que os profetas de Baal fossem presos. Nenhum escapou. Foram levados ao ribeiro de Quisom... e ali terminou com aqueles que enganavam o povo de Israel.
Guerra no Monte Carmelo — nos Altos do meu ser
Naquele dia no monte Carmelo, o fogo caiu do céu e queimou tudo: novilho, lenha, pedras, terra e até a água. Mas hoje, o altar é outro. O campo de batalha não está em Israel, está em mim. E os profetas de Baal não usam túnicas coloridas nem gritam ao redor de altares. Eles vestem a minha carne e sussurram no meu coração. Eles vivem em mim.
Sim, nossa maior guerra não é contra o mundo lá fora, mas contra o império escondido dentro de nós. Meu maior inimigo sou eu.
Não são apenas 450 profetas — são incontáveis pensamentos, sentimentos e desejos que disputam o trono do meu coração. E todos eles querem o que é de Deus. Querem ser adorados. Querem que eu clame por eles, sacrifique por eles, viva por eles.
São esses os profetas de Baal que preciso enfrentar:
O meu pecado de estimação.
A minha violência silenciosa contra os outros, e aquela que grita dentro de mim.
Meu desprezo disfarçado por meus pais.
Minha impaciência com meus filhos.
Minha falta de perdão a quem me feriu.
A ira que me consome quando não sou ouvido.
Meu egoísmo que se mascara de cuidado próprio.
Meu egocentrismo que exige ser o centro de todas as atenções.
Minha soberba disfarçada de opinião firme.
Minha altivez travestida de autocontrole.
Minha presunção de achar que sei o que é melhor para todos.
Meu orgulho em parecer justo.
Meu desejo escondido de promoção pessoal.
A sede de ser aplaudido, elogiado, reconhecido, preferido.
Esses são os altares que eu mesmo construí. Altares que erigi para mim mesmo. Altares que me afastam do Deus vivo.
Mas hoje, como Elias, preciso restaurar o altar do Senhor. Com pedras de arrependimento, com lenha de renúncia, com o sacrifício do eu. E preciso orar:
“Senhor, mostra hoje que Tu és Deus na minha vida. Que eu diminua, e Tu cresças.”
É tempo de guerra.
Guerra contra mim mesmo. Contra o velho homem. Contra a vaidade, contra o desejo de aplausos, contra o amor ao mundo que já se alojou em mim. Guerra contra tudo que não se curva ao Senhor. Guerra santa. Guerra justa.
Porque só há um altar que merece fogo do céu.
Só há um Deus que responde com vida.
Só há uma vitória: a de quem se rende.
E quando o fogo cair, queimar tudo o que sou, e só restar o que vem de Deus — então eu saberei:
O Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!
Você Adora Algum Ídolo?
O fogo caiu no Carmelo, mas será que já caiu no seu coração?
Hoje, não há altar de pedras, mas há altares secretos dentro da alma. E Deus ainda pergunta: “Até quando coxeareis entre dois pensamentos?”
Será que você adora algum ídolo?
O seu estômago é o seu deus?
Você vive em busca do melhor prato, do conforto, da saciedade?
Você se importa com quem passa fome ou só com o que vai comer no fim de semana?
“Se és homem de apetite, põe uma faca à tua garganta.” (Pv 23:2)
O prazer é o seu deus?
Qual forma de entretenimento tem roubado seu tempo, sua mente, seu coração?
É o esporte? A leitura? A música? O sexo?
Você tem sede da presença de Deus como tem sede dessas coisas?
“Na tua presença há plenitude de alegria.” (Sl 16:11)
O dinheiro é o seu deus?
Você corre atrás dele como se fosse vida?
Empilha coisas esperando segurança?
Está confiando nas posses em vez de confiar no Provedor?
“O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males.” (1Tm 6:10)
O mistério é o seu deus?
Você se esconde em desculpas, em áreas que ninguém vê?
Há pecados secretos alimentados no escuro?
“Quem pode discernir os próprios erros? Purifica-me dos que me são ocultos.” (Sl 19:12-13)
Existe alguma coisa que você faz que pode estar atrapalhando a obra de Deus?
Você vive pela fé? Ou pela sua própria justiça, seu controle, sua lógica?
“O justo viverá pela fé.” (Hc 2:4)
O Carmelo é hoje. O altar está montado. O fogo está pronto.
Mas primeiro... os falsos profetas precisam cair. Os ídolos precisam ser desmascarados.
Deus não divide Sua glória.
Ou Ele reina, ou você está coxeando.
Guerra!
Contra o velho eu.
Contra os altares falsos.
Contra o mundo que já se infiltrou.
E então, no silêncio que resta após a batalha, o céu responde com fogo.
Mais uma vez: Só o Senhor é Deus! Só o Senhor é Deus!
Naquele dia, o monte Carmelo não viu apenas um milagre de fogo, mas o retorno de corações perdidos ao verdadeiro Deus. E a voz de Elias ecoaria por gerações como um chamado à decisão:
"Se o Senhor é Deus, segui-o!"
ou ainda o silêncio é a sua resposta!