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Tome sua Cruz: O remédio amargo da verdade.

Claudevan Almeida | 21/05/2025 15:37
Créditos: Divulgação
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O Jovem Executivo

Um jovem executivo era um exemplo de sucesso. Jovem, bonito, bem-vestido, com uma carreira sólida e uma reputação impecável, milhões de seguidores nas redes. Mas, no fundo, havia um desconforto — um sussurro constante de que algo ainda faltava.

Depois de uma conferência sobre o reino de Deus, ele se aproximou do palestrante — um homem de olhar sereno e presença leve, mas marcante.

— Mestre — disse o Jovem, sorrindo com respeito — o que devo fazer de bom para herdar a vida eterna?

Jesus o olhou com paciência e respondeu:

— Por que me perguntas sobre o que é bom? Só um é bom e este é Deus. Mas se queres entrar na vida, guarda os mandamentos.

— Quais? — perguntou o jovem, esperançoso.

— Não matarás. Não adulterarás. Não furtarás. Não dirás falso testemunho. Honra teu pai e tua mãe. E ame o teu próximo como a ti mesmo.

— Tenho feito isso — disse o Jovem, com uma consistência inigualável. — Desde sempre. Isso já me garante o céu, certo?

Jesus fez uma pausa. Depois acrescentou, com firmeza e compaixão:

— Se queres ser perfeito, vende tudo o que tens. Dá aos pobres. Depois vem e segue-me.

O jovem arregalou os olhos. A expressão serena deu lugar à surpresa.

— Mas, Mestre, isso parece... radical demais. Eu posso continuar te seguindo, mas mantendo minhas empresas, meus bens. Posso usar minha influência para o bem. Não é necessário abrir mão de tudo isso, é?

Jesus continuava a fitá-lo com ternura, mas não disse nada.

— Eu posso ajudar de outro jeito. Doar uma parte. Fazer campanhas. Ensinar valores. Não precisa esse nível todo de renúncia, precisa?

Jesus então respondeu:

— O teu coração não está preso ao que tens?

— Eu sou grato por tudo o que conquistei — disse o jovem. — E posso usar isso para glorificar a Deus. Não é isso que importa?

Jesus abaixou os olhos por um instante, como quem lamenta mais do que repreende.

— Muitos querem o Reino de Deus — disse ele — mas poucos estão dispostos a deixar o trono de sua própria vida.

O jovem permaneceu em silêncio, incomodado.

— Não tem outro jeito? — insistiu, agora com um tom quase infantil.

 — O caminho é estreito — respondeu Jesus. — E quem ama sua vida neste mundo, perderá a verdadeira. Mas quem a perde por minha causa, a encontrará.

O jovem sorriu sem graça. Apertou a mão de Jesus, agradeceu pela conversa... e foi embora. Continuou bem-sucedido, influente, admirado. Continuou ajudando, doando, falando de amor.

Mas nunca mais sentiu a paz que viu nos olhos de Jesus naquele dia.

Porque queria seguir Jesus… sem sair do trono.

Poderia continuar falando histórias sem fim de coisas que vemos hoje que Jesus nunca disse. A frase abaixo me marcou muito:

"A igreja ideal é aquela onde se diz tudo o que Jesus disse, se faz tudo o que Jesus fez e não se diz nada do que Jesus não disse, nem se faz nada do que Jesus não fez."

Essa frase de Ivan Baker é um alerta urgente à igreja contemporânea: estamos anunciando um Cristo que nunca existiu?

Boa parte das decepções e abandonos na fé nasce, não por culpa de Cristo, mas por causa de promessas atribuídas a Ele que Ele nunca fez.

É tempo de voltarmos ao verdadeiro evangelho — aquele que Cristo viveu, os apóstolos proclamaram e tantos fiéis seguiram até a morte. Um evangelho de cruz, não de conforto; de esperança, não de facilidades.

A Cruz que Cura

Conheço alguém há muitos anos. Alguém que não atravessou um deserto, mas uma sucessão de desertos, tempestades, noites escuras da alma. Essa pessoa, que poderia ter desistido tantas vezes, ainda está de pé — não ilesa, mas sustentada. Diante de tudo o que vi, só uma palavra responde: fidelidade. E só uma promessa sustenta:

"Sê fiel até a morte, e dar-te-ei a coroa da vida." (Ap 2:10)

A fé verdadeira não é medida pela ausência de dor, mas pela perseverança nela. A medida do que temos que entregar a Deus não somos nós quem definimos.

Pacientes — quem precisa de cura

A primeira descrição do amor em 1 Coríntios 13 é:

“O amor é paciente...”

Não por acaso. A palavra "paciente" não fala apenas de quem espera com calma, mas de quem está em tratamento — como no hospital. O paciente aceita ser cuidado, mesmo quando o remédio causa dor, tontura, náusea. Ele continua porque sabe que a dor momentânea pode salvar sua vida.

Outro termo da medicina que traz um paralelo espiritual profundo é “desenganar”. Quando os médicos desenganam um paciente, eles não o estão abandonando, mas falando a verdade sobre o seu estado. Não dão falsas esperanças. Diante de um diagnóstico grave, o médico responsável precisa ser honesto — e essa honestidade pode ser, paradoxalmente, o começo da salvação.

Assim também é Deus conosco. Ele não nos engana. Ele nos revela com clareza o nosso estado diante do pecado: “todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Rm 3:23). E ao mesmo tempo, nos mostra o único tratamento possível: a cruz de Cristo, a renúncia, a perseverança até o fim.

O amor de Deus não mascara a realidade. Ele nos “desengana” com graça: nos mostra que não há saúde espiritual fora de Cristo — e que não há Cristo sem cruz.

"Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me." (Mt 16:24)

É o único tratamento eficaz. E ainda assim, muitos preferem viver com a “doença” da alma — o pecado — do que aceitar a cruz.

A lista da escola de Cristo

Cito apenas algumas situações que todos, sem exceção, viveremos em algum grau. São parte da pedagogia divina:

Aflições e privações

Angústias e pandemias

Noites sem dormir e insônia

Instabilidade financeira e necessidade

Trabalho intenso e fadiga

Jejuns voluntários ou necessários

Castidade e domínio próprio

Busca por conhecimento

Longanimidade ou saber esperar

Integridade em meio às pressões

Essas são lições obrigatórias. Não há como pular etapas. A questão não é “se” vamos passar, mas como vamos passar por elas.

Paulo, os apóstolos e o próprio Cristo todos eles passaram. Todos suportaram.

"Em tudo somos atribulados, mas não angustiados... levando sempre no corpo o morrer de Jesus." (2Co 4:8-10)

Jesus aprendeu a obediência pelas coisas que sofreu (Hb 5:8). Como então podemos querer glória sem cruz, coroa sem espinhos, céu sem renúncia?

“cristo padeceu por nós, deixando-nos o exemplo, para que sigas os seus passos.” (1Pe.2:21)

A cruz como caminho, não obstáculo

A cruz que muitos querem evitar é, na verdade, o tratamento. É ela que mata o velho homem e forma Cristo em nós.

Ser paciente é continuar tomando o remédio da graça, mesmo com efeitos colaterais. É seguir acreditando, mesmo quando não se entende. É carregar a cruz, mesmo quando pesa. E é amar — amar a Deus com um amor paciente, obediente, persistente. A fé que persevera até o fim é a única que vence o mundo.

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