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Obra de Burle Marx completa paisagismo no Palácio da Justiça

Correio Braziliense | 19/08/2025 11:38
Escultura de Burle Marx instalada no Palácio da Justiça - (crédito: Jamile Ferraris)
Escultura de Burle Marx instalada no Palácio da Justiça - (crédito: Jamile Ferraris)

Escultura de Burle Marx recém-instalada no Palácio da Justiça completa projeto paisagístico que relaciona obras de arte com todos os palácios da Esplanada

Nahima Maciel - Burle Marx sempre foi mais conhecido como paisagista, mas era também um grande pintor e um escultor que, de certa forma, levava para as obras  algo da flora que tanto amava. Por isso, faz todo sentido a escultura escolhida para flutuar no espelho d'água do Palácio da Justiça. Projetada por Burle Marx em meados da década de 1980, a escultura foi esculpida em granito branco do Ceará e pertencia ao acervo do Sítio Roberto Burle Marx, no Rio de Janeiro. Há  duas semanas, a escultura chegou a Brasília para completar o paisagismo da fachada do palácio projetado por Oscar Niemeyer.

A instalação da escultura faz parte de um projeto maior de restauro do palácio, que já está em andamento. "Há uma movimentação do ministério no sentido de restauração do palácio, do jardim do Burle Marx na parte da frente e também pelas laterais, além do Salão Negro. É um processo de qualificação do espaço e de restauração", explica Rogério Carvalho, diretor-curador dos palácios presidenciais. Como parte desse processo de restauro, uma comissão formada pelo arquiteto Élcio Silva, pela historiadora Graça Ramos e por Lilian Cintra, secretária de Direitos Digitais do Ministério da Justiça, além de Rogério Carvalho, se debruçou sobre o estudo de uma escultura que completasse o paisagismo de Burle Marx.

Segundo os integrantes da comissão, faltava um elemento ao espelho d'água do palácio, já que o Itamaraty conta com o seu Meteoro, criado por Bruno Giorgi, o Supremo Tribunal Federal tem a Justiça e o Planalto, os Candangos. "Rogério recebeu o convite do ministério da Justiça para constituir o grupo de pesquisa para avaliar a pertinência da inserção de uma escultura no Palácio, até como um marco desse processo de restauro, que é longo e tem várias etapas", conta Élcio Silva. "Nos perguntaram se seria possível colocar uma escultura na fachada do palácio, considerando essa ideia da relação com o Itamaraty. O primeiro desafio foi avaliar a pertinência dessa pergunta e da ideia, se era cabível. Fizemos um processo longo de pesquisa e investigação do contexto do palácio e das relações urbanas em que se inseria."

Como o projeto paisagístico da fachada do prédio é assinado por Burle Marx, a comissão chegou à conclusão de que uma escultura do próprio paisagista seria o elemento adequado para compor o espelho d'água. "A gente chegou à conclusão de que era cabível a ideia. A história do palácio teve vários processos, agentes, períodos interrompidos de construção, tem uma história de um palácio em processo, então a integração da escultura acabou fazendo muito sentido pra nós", diz Élcio. Para Rogério Carvalho, também era importante intensificar a presença de Burle Marx no Palácio. "Entendemos que não deveríamos incluir um novo partícipe nessa história. O jardim já era dele, e a inserção da uma escultura dele no jardim seria o apropriado."

A escultura, sem título, foi executada a partir de um projeto que já havia rendido um protótipo em pedra pome, também pertencente ao acervo do sítio Burle Marx. É, como aponta Rogério Carvalho, uma obra em processo. O granito branco do Ceará é uma pedra dura, o que pode ter interferido na confecção da peça. "O entalhe da pedra foi tentado com discos de maquita e a pedra se mostrou muito dura. Ela se conforma nas linhas que Burle determinou no protótipo, mas os vazados não conseguem ser executados por conta da dureza da pedra. Mas ela mantém a relação com o pensamento da escultura, guarda essa ponte", explica o curador.

Rogério também prefere não atribuir uma explicação para o que representariam as formas propostas pelo artista. Para ele, a obra deve ficar aberta a interpretações variadas para permitir ao público liberdade na apreciação das formas. O importante, ele defende, é ter em mente a escala em relação ao palácio projetado por Niemeyer. "Acho que o mais importante é a gente pensar o que ela representa com o próprio prédio e com o jardim. Ela de fato traz uma verticalidade ao jardim que hoje ele não possui. É uma verticalidade muito reduzida e talvez isso seja corrigido pelo Tabacow nesse momento de restauro", explica. José Tabacow fazia parte da equipe que projetou os jardins do Palácio e participará do restauro. 

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