Ouvir: o silêncio necessário para compreender

Foi numa tarde comum, dessas em que o tempo parece desacelerar, que o avô chamou seu neto para uma conversa. Sentaram-se no quintal de casa, sob a sombra de uma árvore conhecida pelas boas lembranças. O menino trazia nos olhos a inquietação de quem precisava falar, e no coração, um turbilhão de pensamentos.

O avô, com sua experiência, achou que já sabia o que vinha. Antes que o menino completasse a segunda frase, ele começou a dar conselhos, sugerir soluções, cortar caminhos. O neto silenciou. Desviou os olhos. O que queria dizer ficou escondido no silêncio.

Mais tarde, ao reler um trecho das Escrituras, o avô se deparou com a advertência:

“Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Provérbios 18:13).

Sentiu-se como se tivesse errado o tom da melodia. Ouviu com os ouvidos, mas não com o coração.

 Na manhã seguinte, chamou o neto novamente. Desta vez, apenas disse:

— Fala, meu filho. Hoje o vovô só quer te escutar.

E escutou. Com atenção, paciência e interesse verdadeiro. O neto falou. Desabafou. E enquanto falava, algo se curava nele — e também no avô. Ele entendeu, enfim, que ouvir não é concordar, mas acolher. Não é interromper com certezas, mas abrir espaço para o outro existir com suas próprias palavras.

Desde então, o avô tem um sonho: que o neto leve essa lição adiante. Que escute não só com os ouvidos, mas com o coração. Que olhe nos olhos das pessoas. Que não interrompa. Que valorize o que o outro sente, mesmo quando não entende. Que faça perguntas que mostrem interesse.

E, quem sabe, um dia, esse menino — já homem — também ensine outros a ouvir. Com a mesma esperança que Isaías carregava: “Ele desperta-me o ouvido para que eu ouça como discípulo” (Isaías 50:4).

Porque ouvir, ensinava o avô, é um ato de amor. É dar ao outro a dignidade de ser compreendido. É fazer com os ouvidos o que muitos tentam fazer com palavras: curar.

O velho dizia, com um sorriso no rosto:

- Deus  nos deu dois ouvidos e uma só boca... talvez porque devamos ouvir mais e falar menos. E para deixar isso bem claro, Ele ainda colocou a língua dentro da boca e a cercou com grades — os dentes.”

Era a maneira dele de ensinar que o verdadeiro sábio fala menos... mas escuta com profundidade.

O Valor Espiritual da Escuta

Ouvir vai além de captar sons. É acolher, é estar presente, é valorizar o outro como imagem de Deus. Vivemos em um tempo onde todos querem falar, mas poucos sabem ouvir. Isso gera mal-entendidos, conflitos e distanciamentos — até mesmo dentro das famílias e das igrejas.

Você tem ouvido mais para responder ou para compreender?

O Que é Ouvir, à Luz da Palavra?

Definição bíblica para Ouvir é receber e aceitar a mensagem enquanto ela está sendo enviada — não necessariamente concordar, mas abrir-se ao outro com respeito e atenção.

Existem versículos para meditar que nos desafiam a aplicação em nossas vidas:

“Responder antes de ouvir é estultícia e vergonha” (Provérbios 18:13)

“Não é bom proceder sem refletir, e peca quem é precipitado” (Provérbios 19:2)

“O ouvido que ouve e o olho que vê, o Senhor os fez a ambos” (Provérbios 20:12)

Ouvir é um ato de humildade. Quando escuto o outro com atenção, reconheço que ele tem algo a dizer — e isso pode ser instrumento de Deus para mim.

Ouvir como Discípulo

Isaías 50:4 diz: “O Senhor Deus me desperta todas as manhãs; desperta-me o ouvido para que eu ouça como discípulo.”

Existe uma reflexão para fazer todos os dias: Discípulo que não ouve, não aprende. O verdadeiro aprendizado vem da escuta atenta — seja de Deus, seja do próximo. Ouvir com o coração nos torna mais sensíveis ao Espírito Santo e mais eficazes em consolar, exortar e amar.

Existem obstáculos que precisamos nos livrar para aprender a Ouvir Bem vou citar alguns:

A pressa de responder (orgulho, impaciência)

A distração (mente ocupada, celular, ruído emocional)

O julgamento prévio (achar que já sabe o que o outro vai dizer)

A competição (responder para “ganhar” a conversa)

Os princípios bíblicos sempre nos confrontam e nos ajudam a nos livrar destes laços que impedem a comunicação eficaz:

“Quem responde antes de ouvir, comete tolice” (Pv 18:13)

“Todo homem seja pronto para ouvir e tardio para falar” (Tiago 1:19)

 Princípios Práticos para Ouvir com Sabedoria

Olhe nos olhos – Mostra atenção e presença.

Não interrompa – A interrupção bloqueia a confiança.

Não dispute – Ouvir não é um debate.

Valorize o sentimento – Mesmo que não pareça importante para você, é para o outro.

Faça perguntas apropriadas – Isso demonstra interesse genuíno.

Ouvir também é ensinar

Ouvir é ensinar parece antagônico, mas quando ouvimos bem, ensinamos o outro a também ouvir. O bom ouvinte promove reconciliação, cura e comunhão. Um dos exemplos bíblicos que mais falam sobre como o coração de Jesus era disponível para ouvir è o cominho que Ele trilhou pacientemente com os discípulos no chamado Emaús (Lucas 24) — Ele primeiro ouviu o que eles sentiam, aqueles discípulos revelaram que o coração deles ardiam pelo caminho (o significado da palavra emaús curiosamente é banhos quentes), eles foram ouvidos, depois ensinados, foram aquecidos e acolhidos e isso tudo antes da revelação da verdade, a fé que eles tinham perdido, agora eles creram e foram curados. Jesus os ouviu em suas necessidades, mesmo sendo Deus não se antecipou a falar, esperou o momento certo. Ele nos ouve por isso fale por mais simples seja sua inquietação, Deus se interessa em ouvir para te ajudar a ouvir o que é realmente necessário.

Ouvir é um ato espiritual

Ouvir não é uma técnica: é uma escolha de amor, empatia e sabedoria. É um exercício espiritual que nos aproxima do coração de Deus.

Lanço aqui um desafio: Esta semana, ouça alguém até o fim, sem interromper, sem julgar, apenas acolhendo. Depois, pergunte ao Senhor: “O que o Senhor quis me ensinar por meio dessa escuta?”

Deixo uma palavra de Jesus para vocês:

“Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.” (Mateus 11:15; Apocalipse 2:7)

Música para meditação:

Dá-me Ouvidos – Ludmila Ferber – 2004 – álbum: Ouço Deus Me Chamar