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Quais os riscos do turismo de aventura e como se proteger deles

Dw Brasil | 02/07/2025 11:33
© picture-alliance/dpa
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Morte de brasileira na Indonésia e acidentes com balões no Brasil acenderam um alerta sobre a segurança da atividade. Especialistas destacam que turistas têm meios para minimizar o perigo.

A trágica morte de Juliana Marins, de 26 anos, durante uma trilha na Indonésia, reacendeu um debate sobre os riscos existentes na prática do turismo de aventura. A publicitária foi deixada para trás pelo guia. A agência de viagens que vendeu o passeio também estava banida do Parque Nacional do Monte Rijani, onde ocorreu a tragédia.

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O caso explicitou a falta de protocolos de segurança e planos de emergência, mas, infelizmente, somou-se a outras tragédias ocorridas no Brasil, também no mês passado. Em São Paulo e em Santa Catarina, dois acidentes com balões levaram à morte de nove pessoas, no total, e deixaram dezenas de feridos. Em ambos os episódios, os pilotos não estavam habilitados.

Resgate de Juliana Marins após queda em trilha de vulcão na Indonésia levou quatro dias

Resgate de Juliana Marins após queda em trilha de vulcão na Indonésia levou quatro dias© BASARNAS/AP Photo/picture alliance

Em 2022, cenas do desabamento de um paredão em Capitólio (MG) que matou dez turistas em uma lancha de passeio correram o mundo. Na ocasião, mesmo com o aviso de que havia risco de queda da estrutura, as embarcações demoraram para deixar o local.

Apesar de existirem normas técnicas específicas para atividades de turismo de aventura no Brasil, como trilhas, rafting, tirolesas e mergulho, o setor sofre com a falta de fiscalização e informalidade, que dificulta a qualificação de profissionais e pode refletir na segurança dos consumidores. No entanto, segundo especialistas consultados pela DW, mesmo que a ausência de perigos seja inevitável no turismo de aventura, existem meios pelos quais os turistas podem se resguardar para minimizar os riscos.

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Três regras fundamentais

De acordo com Luiz Del Vigna, diretor-executivo e um dos fundadores da Associação Brasileira das Empresas de Ecoturismo e Turismo de Aventura (Abeta), são três regras específicas, que foram criadas no Brasil e se tornaram regulamentações internacionais pela Organização Internacional de Normalização (ISO).

Segundo ele, a primeira delas, a ABNT ISO NBR 21101, que estabelece um sistema de gestão de riscos para quem presta o serviço de turismo de aventura, é a "espinha dorsal do processo". "Ela determina que a agência que oferte uma modalidade específica, como um circuito de trilha, por exemplo, faça os inventários dos perigos e riscos da atividade e desenvolva um plano de atendimento a emergências", afirma Del Vigna.

Por sua vez, a segunda norma técnica, a 21.102, define habilidades e conhecimentos necessários para líderes em atividades de turismo de aventura, inclusive em primeiros socorros e atendimento de emergência – o que faltou tanto nos casos de Juliana Marins, quanto nos acidentes com os balões em Boituva (SP) e Praia Grande (SC).

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Já a última regulamentação para o turismo de aventura no Brasil, a 21.103, especifica as informações mínimas que devem ser fornecidas aos participantes, antes, durante e depois da atividade escolhida. "Tem todo um descritivo do circuito e tudo o que pode dar errado ali, inclusive para que a pessoa tenha o direito de optar por não ir, caso se sinta insegura", complementa o diretor-executivo da Abeta.

Para a professora Aylana Laíssa Medeiros Borges, do Centro de Excelência em Turismo (CET) da Universidade de Brasília (UnB), essas informações são importantes para que o turista saiba inclusive o que fazer e a quem recorrer caso ocorra algum tipo de acidente. Além disso, deve haver uma comunicação pelo guia ou responsável pela atividade sobre qual o perfil do grupo de participantes.

"Por exemplo, se são atletas ou sedentários? Isso vai fazer com que a atividade seja regulada, porque não é possível imprimir em um passeio de trilha uma dinâmica de caminhada que nem todos ali consigam atender", diz a turismóloga, que lembra que outros dados, como condições climáticas e nível de dificuldade também devem estar presentes.

"Acaba sendo também uma segurança para a agência de viagens", explica Borges. Segundo ela, quando não se há uma gestão de riscos e não é levado em consideração o risco da atividade turística e do lugar onde ela é realizada, "é muito preocupante".

Mas de quem é a responsabilidade se algo der errado?

Em passeios de turismo de aventura pelo Brasil, não é incomum receber da agência de viagens um "termo de responsabilidade", em que a prestadora do serviço tenta se eximir de qualquer culpa caso aconteça algum problema durante a atividade. No entanto, diz Luiz Del Vigna, esse instrumento é inválido e vai contra o que está disposto na ABNT ISO NBR 21103.

"A lei obriga que se liste os riscos identificados no inventário. Esse termo de isenção de responsabilidade não existe, é absurdo. Se você tem uma empresa séria e cumpre o objetivo, vai ter um documento informando tudo", pontua o diretor da Abeta.

No entanto, o cenário se complica quando se leva em consideração as dificuldades de fiscalização sobre a implementação das normas técnicas pelos operadores de turismo. Como explica Aylana Borges, a determinação de controle é do Ministério do Turismo, mas não há identificação específica de quem faça essa fiscalização, logo, a regulação acaba ficando a cargo de denúncias.

O problema é agravado pela informalidade generalizada. De acordo com estimativas da Abeta em parceria com a Universidade Anhembi Morumbi, havia, antes da pandemia, cerca de 1.500 empresas cadastradas no Cadastur como operadoras de turismo de aventura. No entanto, Del Vigna reconhece que esse número está defasado e que o tamanho do mercado informal é incalculável.

"Quem é informal, é fora da lei. Às vezes tem no máximo um alvará de funcionamento da prefeitura, oferece turismo de aventura, mas não cumpre com a legislação porque não tem um sistema de segurança implementada", diz. Mas a certificação de uma empresa pelas normas técnicas, que em alguns casos pode custar R$ 20 mil, cria limites não só financeiros já que, sem a fiscalização, fragiliza o setor, criando distorções no mercado.

"Por exemplo, um passeio a cavalo só pode ser ofertado para maiores de 7 anos. Tem famílias com crianças menores que isso que querem fazer o passeio. Se der algo errado com o prestador certificado, ele vai preso, então ele não atende essas famílias. Então, a agência de viagem vai indicar quem não segue a norma, porque não perde o cliente, já que o poder público não fiscaliza a priori", explica.

Aylana Borges lembra que a segurança na experiência de turismo é uma corresponsabilidade, que envolve gestores públicos e privados, turistas e comunidade local. Segundo ela, esse é um dos grandes desafios da atividade no Brasil.

Como se precaver na hora de fechar um passeio de aventura?

Em se tratando dos passeios de aventura, o turista é quem está na ponta do processo. É quem paga pelo passeio e quem pode sofrer as consequências de uma gestão de riscos mal feita ou inexistente, ressalta Del Vigna. "É fundamental que o consumidor passe a cobrar", diz o diretor da Abeta.

Um dos principais canais para verificar se um prestador de serviços ou guia contratado é regularizado é o Cadastur, do Ministério do Turismo. Pela plataforma online, o consumidor consegue acessar o cadastro de prestadores de serviços e verificar se a pessoa ou empresa está listada como regularizada pelo governo federal.

"Em termos de atuação desse profissional, temos esse aporte na legislação, que prevê fiscalização e penalidade caso não se cumpra o que está previsto em lei. É preciso que o profissional tenha curso, cadastro e, além disso, uma carteirinha do Ministério do Turismo identificando o guia", destaca Aylana Borges. De acordo com ela, é primordial que o turista peça para o profissional apresentar esse documento.

Del Vigna também lembra que é recomendável consultar os sites de avaliação online, como o próprio Google, desde que aquela não seja considerada a palavra final sobre a qualidade do serviço. "E peça informações sobre o sistema de segurança. Pergunte se é certificado – e essa é a pergunta de ouro", diz.

"O turista não está com a mão atada. Você vai colocar o seu filho, seu neto, uma pessoa amada, numa tirolesa que cruza um vale a 140 metros de altura que não for certificada?", questiona ele.

Para ambos os especialistas, mesmo que haja um déficit na comunicação por parte do poder público, o turista também tem um papel ativo na construção de experiências mais seguras. "Cabe, sim, uma educação do turista: entender que tipo de turismo ele gosta de fazer, quais cuidados precisa tomar, que riscos estão envolvidos, quais canais deve acionar e como buscar informações sobre o que está sendo ofertado", conclui a professora da UnB.

Autor: Fábio Corrêa

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