Após acordar do sonho de concorrer ao Senado fazendo dobradinha com o prefeito João Henrique Caldas, seu 'nome preferencial' para disputar o governo, o deputado Artur Lira começa a se mover para buscar alguém com potencial para encarar Renan Filho, ex-governador, atual ministro dos Transportes e favorito das pesquisas de intenção de voto para a sucessão alagoana do ano vindouro.
São duas vagas de senador em jogo, e Lira até há pouco parecia convencido de que conseguiria uma delas, em qualquer cenário. A outra - isso é tema consensual nos bastidores políticos e evidência numérica nas pesquisas - deve ser conquistada pelo senador Renan Calheiros.
Em dobradinha com JHC, tudo seguia bem para o deputado progressista, até que um acordo em Brasília, com os personagens alagoanos girando em torno do presidente Lula, acabou por deixar de fora das próximas eleições exatamente JHC, o prefeito maceioense que o senador Renan Calheiros ainda apoia para a segunda vaga na Câmara Alta.
O entendimento mediado por Lula definiu o seguinte: Renan Filho sai para governador e Renan Calheiros e Artur Lira, para o Senado. JHC permanecerá no cargo de prefeito até o final do mandato, em 2028, mas com o direito a comemorar a nomeação de sua tia, Marluce Caldas (procuradora do Ministério Público de Alagoas) para o cargo de ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ). O mapa ficou visivelmente desenhado.
Renan Filho conta com uma formidável estrutura de apoio, reunindo as forças da situação que governam o Estado com Paulo Dantas, detêm duas cadeiras no Senado, vários deputados federais e maioria folgada na Assembleia Legislativa, além de quase 90 prefeitos e mais de 500 vereadores, algo nunca visto na política alagoana. Sem falar no respaldo do presidente Lula.
Renan Calheiros, grande articulador das estratégias do bloco governista, é visto como 'pule de dez' na corrida pelo quinto mandato senatorial consecutivo, o que poderá consagrá-lo como novo recordista da política brasileira ao lado do veterano, imbatível e já aposentado José Sarney.
O cargo de vice de Renan Filho está em aberto, deverá ser usado para negociação (atual vice, Ronaldo Lessa estaria propenso a disputar um mandato de deputado) e aí se completa o quadro majoritário governista, valendo mais uma vez anotar que o senador Renan defende JHC como candidato ao Senado.
Apesar da restrição ao seu nome na cúpula emedebista local, Artur Lira saiu do entendimento com o nome definido para a segunda vaga de senador, comemorou a negociação que o deixou livre de enfrentar Renan pai e JHC, mas logo se deu conta de que seu plano eleitoral precisa de um concorrente ao governo. Considerando o cenário atual, seria uma espécie de 'candidato a mártir' das próximas eleições.
Há dois nomes possíveis, mas não prováveis, para entrar nessa corrida: Alfredo Gaspar, ex-procurador de Justiça, ex-secretário de Segurança (governo Renan Filho) e atual deputado federal, e Davi Davino Filho, ex-deputado estadual, bom de voto na capital e nos municípios. Para Lira, claro, qualquer dos dois serve.
O problema é que ultimamente Gaspar tem demonstrado mais interesse em disputar a reeleição. Não se definiu, ainda, mas emite sinais de que considera menos complicado concorrer ao Senado, mesmo porque, nessa última hipótese, enfrentaria o líder fortíssimo que lhe ofereceu cargo e apoio no governo estadual.
E Davi Filho? Pode ser a grande dor de cabeça de Lira. Bem votado na disputa para o Senado (com Renan Filho) em 2022, tem afirmado que vai por que vai disputar a segunda vaga de senador, com ou sem estrutura, com ou sem apoio de partidos. Sandice? Não, apenas está convencido de que sua chance de atingir a meta não alcançada em 2022 se amplia muito com duas vagas em jogo e não tem porque se afligir com ausência de nome ao governo, visto que, recostado em JHC, poderá propor composição com Renan Filho. Mais: sem mandato, o ex-estadual não tem o que perder, ao contrário do atual federal.
Com Davi em campo o caldo engrossa para Artur Lira, seriam três nomes fortes para duas vagas, sem falar que o bloco governista de repente pode optar por lançar um segundo nome ao Senado. Mas, há que indagar: seria o fim de Lira? Não. O ex-presidente da Câmara dos Deputados também poderia, por exemplo, deixar diferenças de lado e tentar negociar um 'adendo' ao acordo de Brasília, pelo qual ele disputaria o Senado apoiando Renan Filho ao governo, isso, obviamente, com reciprocidade. Nesse caso, o grupo de Renan pai teria que decidir entre Lira, Davi e um nome próprio do MDB.