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Sem sutilezas, Artur Lira tenta empurrar JHC para o abismo sem volta

Romero Vieira Belo | 01/06/2025 15:50
Cada dia mais isolado, Lira busca JHC desesperadamente.webp
Cada dia mais isolado, Lira busca JHC desesperadamente.webp

Deputado faz média buscando usar prefeito como muleta de seu projeto eleitoral

Após quatro anos manipulando e distribuindo recursos bilionários das emendas parlamentares, como presidente da Câmara, Artur Lira ainda vive a expectativa de assumir um ministério do governo Lula, doce sonho alimentado desde que empossou o paraibano Hugo Mota como sucessor.

Com espaço próprio na Esplanada dos Ministérios se livraria da frustração de jamais ter exercido cargos ocupados por dois implacáveis contendores: Renan pai, ministro da Justiça no governo de Fernando Henrique Cardoso, e Renan filho, atual titular do Ministério dos Transportes.

Mas a reforma ministerial não anda, Lula encara questões mais ingentes, e Lira, já dando sinais de desânimo, resolveu se concentrar no jogo político alagoano, onde perdeu espaço por inação ou por achar que a ele caberia definir posições.

O mandato de deputado lhe permitiu chegar à presidência da Câmara, graças ao apoio do Centrão obcecado por emendas, o que fez de Lira um dos personagens centrais da política nacional. Sentiu-se rei sem coroa, mas com força suficiente para escalar uma subida mais íngreme visualizando o Senado no topo.

A pretensão de pleitear o mandato de senador parece legítima – à parte suas encrencas na Justiça – o que não significa que o caminho está pavimentado. Longe disso. Senado é disputa majoritária, exige bagagem própria e composições políticas. E Lira não tem uma coisa nem outra. Por isso tem investido forte em elogios gratuitos ao prefeito João Caldas filho. Do tipo "JHC tem demonstrado competência na gestão" e "Por onde andamos há um forte clamor para que JHC venha a ser o nome do nosso grupo ao governo alagoano". Para Lira, envolver o prefeito virou ponto crucial.

Primeiro, porque ele sabe que sem um candidato a governador viável a corrida ao Senado é derrota certa. Segundo, porque, com duas vagas de senador em jogo, o desafio parece menos penoso (parece porque seu pai, Benedito de Lira, também pensava assim e acabou ‘sobrando’, em 2018, quando perdeu a disputa para Renan Calheiros e Rodrigo Cunha).

O problema é que, sem ter muito a oferecer – seu partido, o PP, elegeu apenas 27 dos 102 prefeitos alagoanos e ele próprio não tem voto na capital – Lira tenta apostar tudo no seu projeto pessoal. Isto é, não lhe incomoda o fato de que, se perder a batalha pelo governo, JHC vira um Davi Filho – fica sem mandato, sem cargo, sem nada. Ademais, o prefeito, vale citar, gosta de números e sabe que o eleitorado de Maceió é apenas um quarto do estadual. Sabe, também, que terá pela frente um adversário consagrado como um dos maiores governadores de Alagoas: Renan Filho, líder de um MDB que elegeu 65 prefeitos, cresceu após o pleito e já conta com 90 gestores, alguns inclusive originários do minguante PP de Lira.

Não é só, a contraposição impressiona: enquanto JHC contaria com um grupo de poucos prefeitos e alguns parlamentares da ALE, Renan Filho cresce com respaldo de poderosa aliança partidária comandada pelo MDB e com o apoio de mais de 20 deputados estaduais, de uma legião de vereadores, do governador Paulo Dantas, do senador Renan Calheiros e das figuras mais influentes do governo federal, começando pelo presidente Lula, que ganha força com a aproximação de cada maratona eleitoral.

Diante desse cenário e de complicadas ‘articulações nos bastidores’ – como a indefinida nomeação da procuradora Marluce Caldas para o Superior Tribunal de Justiça – uma coisa é certa: JHC pode não ter nenhum motivo para ignorar o ‘incentivo’ de Artur Lira, mas tem mil razões para pensar primeiro na própria estabilidade política. Exatamente como está fazendo o herdeiro de Biu de Lira.

 

 

 

 

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